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Como o governo municipal tem lidado com os contextos interno e externo

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas
Vereadores querem partilhar das decisões

Um governo com duas estratégias de ação. Uma, que observa o contexto interno, e outra que procede bem diferente nas relações externas. Assim é descrita a gestão do prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom (PSDB), à reportagem. O Diário ouviu, nos últimos dias, mais de uma dezena de pessoas de setores e classes que, ao longo de quase um ano, estão sendo consultadas na tomada de decisões frente à pandemia. Neste grupo também constam nomes de empresários que estão sendo impactados pelos decretos dos Executivos estadual e municipal, e, ainda, seis secretários de município.

A leitura feita pelas fontes consultadas aponta para caminhos que, aparentemente, parecem distintos, mas que, ali à frente, encontram-se em uma mesma direção: resguardar Santa Maria do colapso, cada vez mais ameaçador e inevitável.

Porém, neste ínterim, há uma abissal distância entre o que é planejado e o que é executado. Dentro de uma linha de tempo - fixada por médicos, secretários de município e integrantes de demais órgãos públicos -, fica evidenciado que, "no começo de tudo", a gestão tucana largou bem e, paradoxalmente, foi precipitada ao lançar mão de um "quase lockdown". No transcorrer dos meses, o governo abdicou de uma certa autonomia "para rezar na cartilha" do Piratini. Porém, também é reconhecido que o tucanato local soube elevar a régua de restrições mesmo quando o Estado não o fez.

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Já com a iminência do processo eleitoral, o combate à Covid-19 virou "moeda de troca" para justificar "o que não foi feito" e "tudo que estava sendo executado". Até que, mais recentemente, o governo teria "retornado às origens". Leia-se, conforme uma fonte, "consultar os mesmos do governo e, depois, buscar um médico aqui, outro ali", para decidir os rumos da municipalidade.

- O prefeito chamou para si a responsabilidade: promoveu um quase fechamento da cidade e evitou o pior. Todas as decisões, naquele momento, foram técnicas e com o respaldo de uma esmagadora adesão da classe médica - pontua um médico da rede privada.

A decisão de Pozzobom, em março de 2020, é considerada "de afogadilho" e ainda reverbera, diz o integrante de uma instituição empresarial da cidade:

- O Pozzobom não precisava ter fechado tudo. Estamos até hoje, por culpa dele e do governador, pagando a conta por essa recessão toda.

RAZOABILIDADE

Para outras fontes - ligadas aos mais variados setores que estiveram, e, algumas, que ainda seguem presentes no Comitê Estratégico -, Pozzobom tem sido razoável. E, na maioria das vezes, agido de forma acertada.

No entanto, boa parte das fontes ouvidas aponta para um entendimento, que é ponto pacífico: o receio de que um desgaste, ainda maior com a opinião pública, engesse o governo numa tomada de decisão mais célere.

- Não vejo, como alguns colocam, que eles (governo) não sabem o que estão fazendo. O que parece é, sim, uma demora. Ou seja, quando há necessidade de uma tomada de decisão, que precise ser rápida e assertiva, ela (resposta) acaba não vindo. Ou, o que é pior, vem tardiamente. Numa situação mais crítica, há a urgência de uma pronta resposta, agrade ela ou não a sociedade - aponta uma fonte que integra o Comitê Estratégico.

Para evitar erros do passado, proximidade com a Câmara

Se, no primeiro mandato, Pozzobom deu de ombros ao Legislativo, agora, ele quer mostrar que, para o período de 2021 a 2024, a história será diferente.

- O prefeito, que é rodado, descuidou da Câmara no primeiro mandato. Ele sabe que essa é uma Casa política, não pode vacilar. Até porque na primeira oportunidade, a oposição vai "fritar" ele, é só o contexto se ensejar. Ele foi (em 24 de fevereiro) falar aos vereadores e dar um recado: "ó, estou aqui. Vamos decidir juntos, vocês são parte do todo". Foi um gesto, e a política é feita de gestos. E ser transparente é agir assim.

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A fala acima, dada por um vereador governista, parece, contudo, não ter colado junto à oposição. Ou, ao menos, não na forma que Pozzobom esperava.

- O prefeito fez bem em ir à Câmara. Ele não está indo mal na condução da cidade em meio à pandemia, até porque se o outro candidato tivesse vencido, aí estaríamos em maus lençóis, com a turma de "negacionistas". Mas o Pozzobom, me parece, só veio aqui cumprir tabela e fazer média - diz um oposicionista.

Decisões seguem nas mesmas mãos, apontam integrantes da administração

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos
Prefeito conta com a participação direta de Guilherme Cortez (à esq.)

Dentro do chamado núcleo-duro do governo, "há um grupo que não possibilita a entrada de mais ninguém". A declaração é de um secretário, que integra a gestão tucana desde 2017, e que vê uma centralização "nas mãos dos mesmos".

- O prefeito tem com ele um círculo fechado de pessoas que o acompanham de longa data. É compreensível que o Cortez (Guilherme Cortez, ex-chefe da Casa Civil) e o Ramiro (Ramiro Guimarães, superintendente de Comunicação) sejam as referências do Pozzobom. São eles que tomam as decisões. Todo mundo sabe que é assim. Agora, tem o Decimo (Rodrigo Decimo, vice-prefeito), que entrou nesse seleto grupo. Mas qual governo que não tem os principais nomes? - avalia um secretário.

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Já outro integrante do secretariado municipal acredita que os rumos do governo e a forma de agir da gestão Pozzobom seguirão os mesmos do mandato anterior:

- Se eu seguir no governo, o que ainda não sei, as decisões serão desse trio: prefeito, Cortez e Ramiro. Tem, agora, o Falk (Ewerton Falk, secretário de Desenvolvimento Econômico), mas ele não tem essa penetração que muitos acham. Ele está mais ali presente do que, efetivamente, "apitando" em algo. Tem, e vejo como importante, a Carolina (Carolina Lisowski, controladora geral), que é voz técnica. Mas ela também não está nessa lista de quem manda.

REFORMA

Dentro de uma reforma administrativa, que deve sair do papel, Ramiro assumirá a Secretaria de Comunicação, que será criada. Cortez, que foi chefe da Casa Civil, terá protagonismo no governo. Se no primeiro mandato, ele foi alçado à condição de quase vice-prefeito, agora, deve ser contemplado com alguma pasta que não lhe cause tanto desgaste. Fato é que ambos seguirão estratégicos no governo.

Decimo: protagonismo no dia a dia

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Germano Rorato (divulgação)
Engenheiro vindo dainiciativa privada conduz reformas

Jorge Pozzobom, com mais de 20 anos de mandatos (nos Legislativos local e estadual, além de ter sido secretário de município e de Estado), tem ao lado dele, o vice-prefeito Rodrigo Decimo (PSL), - um estreante na política e em temas correlatos à máquina pública. Porém, o engenheiro civil que vem da iniciativa privada foi alçado, pelas mãos de Pozzobom, à condição de um prefeito quase interino em caráter permanente.

A missão, já na largada do governo (a de promover uma ampla reforma nos processos internos da prefeitura), foi dada a Decimo. Pozzobom diz que "por ser um olhar de fora da prefeitura", Decimo teria mais condições de apontar caminhos e, até mesmo, soluções no combate ao engessamento da máquina (leia-se, burocracia).

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- O Decimo é uma pessoa a quem confio total e integralmente. Ele será o nome à frente do dia a dia da prefeitura, para que eu possa seguir nas demandas que exigem articulação política em questões junto aos governos federal a estadual - diz Pozzobom.

Sabedor da responsabilidade, bem como das próprias limitações, Decimo tem se debruçado dia e noite na reforma, para que possa imprimir uma celeridade maior e um azeitamento dos processos:

- Não será uma reforma geral, com trocas substanciais de nomes. Alguns nomes irão se somar. Só que a meta é a mudança de foco. Ou seja, dar agilidade aos processos. Há necessidade de um tripé: processos, pessoas e tecnologia com a agilidade de processos. 

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